sexta-feira, 15 de julho de 2011

Trabalho das Tarefas Domésticas

Lembram-se do trabalho sobre as tarefas domésticas. Muitos dos leitores deste blog participaram de forma directa ou indirecta na realização desse trabalho através do preenchimento dos questionários e está na altura de partilhar alguns resultados. Não sendo muito fã de estatística a nota final (16) não foi das melhores embora também não seja má.
Vou deixar aqui a reflexão crítica do trabalho onde são abordadas as conclusões de uma forma mais qualitativa. Mais uma vez obrigado a todos os que se disponibilizaram a responder ao questionário ou a pedir a alguém que conhecessem.

Reflexão

"Tendo em conta os resultados da nossa investigação podemos aferir que apesar de actualmente existir uma tendência para a aproximação dos direitos e deveres entre homens e mulheres, a nível da realização de tarefas domésticas, ainda existe uma clara discrepância estatisticamente evidente. Podemos concluir que, em todas as actividades descritas no estudo e a nível geral, existe uma preponderante participação dos elementos do sexo feminino em comparação com os do sexo masculino. Estes dados tornam-se curiosos pois além das mulheres, também a maioria dos homens admitem que o trabalho doméstico deveria ser dividido de forma igual entre os dois membros do casal, contudo o seu grau de participação é diminuto evidenciando uma incoerência entre as atitudes e os comportamentos destes. Além do já referido, em traços gerais a maioria dos participantes afirma que a realização de tarefas domésticas não retira masculinidade e que a sociedade já não percepciona um homem que realize estas lides como sendo menos masculino. No entanto, mais uma vez se salienta que mesmo estando este preconceito aparentemente esbatido, o homens continuam a não desempenhar estas tarefas com a mesma frequência que as mulheres. O nosso estudo parece estar então em concordância com a introdução teórica no que toca a quem realiza mais as tarefas domésticas.

A nosso ver, existe ainda um longo caminho a percorrer para que ambos os sexos tenham uma posição de igualdade na nossa sociedade e apesar de muito já ter sido feito nesse sentido, os nossos resultados indicam que há ainda algumas discrepâncias a ser abatidas. Os estereótipos e preconceitos relativamente a este tema começam lentamente a ser desconstruídos mas, para algumas pessoas, um homem que realize tarefas domésticas, principalmente as relacionadas com a cozinha e a roupa, continua a ser percepcionado como menos viril principalmente quando desempenha estas tarefas à frente de outros.

O nosso trabalho tem algumas limitações que nos foram também apontadas por alguns participantes, nomeadamente não ter em consideração a profissão dos participantes e excluir a participação de casais homossexuais. Contudo, actualmente em Portugal, ambos os sexos deveriam ter acesso às mesmas profissões, estado portanto igualizados no que toca a este parâmetro. Além disso, sendo o objectivo do estudo a identificação das diferenças entre homens e mulheres, no que toca à realização e à percepção que têm das lides domésticas, não faria sentido incluir casais homossexuais. No entanto este pode vir a ser um estudo interessante, no futuro para verificar se existe uma distribuição mais harmoniosa das tarefas domésticas nestes casais, tal como afirma a nossa contextualização teórica. Um outro factor que seria igualmente interessante estudar seria a divisão de tarefas entre o casal tendo em conta o estado civil dos mesmos e a idade.

Como pontos fortes na nossa investigação, podemos salientar o facto de considerarmos este estudo como relevante para a compreensão do mundo social, e a descoberta de novas perspectivas e significados que compreendam e descrevam a natureza da realidade humana, da interacção entre os dois sexos no nosso país e entre as dinâmicas familiares dos casais de sexos opostos. Poderá igualmente contribuir para a desmistificação dos complexos que estão inerentes aos elementos do sexo masculino quanto às lides domésticas.

Importa acima de tudo, o direito pela igualdade, e começarmos por estas pequenas mudanças sendo que a pouco e pouco possamos contribuir para que as mentalidades evoluam. Nos dias recorrentes, vemos a partilha destas actividades de forma igual como sendo fundamental para o bom funcionamento do casal e da gestão de tempo entre ambos."


9 comentários:

Teté disse...

Em suma, está-se no bom caminho, mas ainda falta um bom pedaço dele para as tarefas ficarem igualmente divididas pelos dois membros do casal! :)

E com isto fizeste-me lembrar o pai do meu cunhado, um daqueles calões de primeira apanha no que se relaciona a trabalho doméstico, que ao ver o filho ajudar a minha irmã num dos primeiros jantares que deram depois de casados, só lhe faltava espumar pela boca, "porque um homem não anda a criar um filho para isto..." :P

Beijocas!

ps - ainda bem que esse homem um dia resolveu ir comprar tabaco e não voltar, que eu e a minha irmã não o gramávamos nem com molho de tomate... :D

Se7e disse...

humm.... eu não gosto de estender a roupa!!! mas isso não quer dizer que seja mais másculo, apenas detesto!

abc :)

Meia Noite e Um Quarto disse...

Tsc Tsc...Psi Psi...achas mesmo que entre casais homossexuais é muito diferente da realidade heterossexual?
Olha, em casa do fofo, ele mora lá, mas lixo na rua é comigo, lavar loiça é comigo, limpar é comigo, arrumar é comigo...a única coisa que ele faz é tratar da roupa...e cozinha vá...;-)
eheheheh

Mas a sério, acho que vai haver sempre um no casal que faz mais do que o outro ao nível da lide doméstica...

Frankenstakion disse...

Pois, os homens dicam-se pelas intenções. Eu faço tudo (morando sozinho não tenho outra hipótese). O que me custa mais é limpar a casa de banho...

João Roque disse...

Eu compartilho, como sabes, um apartamento com um "velho" amigo e as tarefas domésticas estão bastante repartidas segundo as nossas aptidões; nada foi imposto e nasceu de um acordo tácito e natural.
A minha área é a da comida, desde as compras do que é preciso até à confecção das refeições, e digo-te que me dá água pela barba.
O resto é com ele, mas nas limpezas temos uma senhora que vem cá periodicamente para uma limpeza mais cuidada.
O teu trabalho está perfeito e fazes bem em focar o caso dos casais homossexuais.

ψ Psimento ψ disse...

Teté: Mas a culpa não é só dos homens, as mulheres também muitas vezes facilitam... Deviam empor-se mais e estipular tarefas para os homens realizarem. Houve mesmo algumas mulheres que numa das perguntas dos questionário responderam que as tarefas domésticas deviam ser realizadas "Unicamente pelas mulheres"...

Se7e: Isso são precisamente gostos. Eu pessoalmente não gosto nem sei cozinhar por isso, ponham-me comidinha no prato que eu trato da loiça.

00:15 Vocês são um caso ehehhe. O que o estado da arte diz é que entre casais do mesmo sexo as tarefas dividem-se mais harmoniosamente e a maioria dos casais que conheço nestas condições comprovam o que a teoria diz. Se no teu caso é assim, é porque tu o permites ehehhe estás a habitua-lo mal. De qualquer forma no caso dos casais do mesmo sexo a divisão das tarefas é decidida com base em outros factores que não o sexo por isso não se trata de uma questão de diferenças de papeis de género como no caso dos casais heterossexuais.

X: Eu confesso que falo muito mas a verdade é que aqui em casa quem trata da casa de banho é sempre a minha mãe ou a minha irmã.Mas eu faço outras coisas! :p

pinguim: Não está perfeito eheh e confesso que não fiquei completamente satisfeito no final do trabalho mas com a quantidade de coisas que tinha para fazer na altura não lhe pude dedicar a devida atenção. De qualquer modo foi um dos trabalhos que me deu mais gosto. Parece-me a forma mais adequada de divisão de tarefas ehhehe.

Theomentos disse...

Agora que moro sozinho tem de ser eu a fazer tudo, quando vivi em Portugal cuidava do meu quarto e da minha casa de banho, da minha louuça e da minha roupa, eu e o Domingos dividíamos cada um numa semana para limpar o resto da casa, mas eu acho que muito pode ser facilitado por exemplo para que ter trabalho com a loiça quando já há máquinas para isso :P (e olha que eu prefiro lavar loiça a fazer outras coisas). Quando dividia a casa com o Péio tmb dividia da mesma forma as tarefas apesar de termos rusgas feias quanto a loiça. Hoje eu ajudo minha mãe a tirar a loiça da mesa e em outras tarefas mas cresci vendo meu avô e meu pai almoçarem e saírem da mesa deixando tudo para as mulheres porém tmb saíam da mesa e iam trabalhar... Naquela época talvez o tempo que eles dispunham não permitia, hoje já vejo meu pai ajudar bastante em casa, já meu avô continua a sair da mesa e quando não vai pra frente da tv vai dormir :P acho que lá nunca vai mudar

KarenB disse...

Olá Psi!
Ora finalmente aqui temos o resultado!!! E olha que boa nota!! Apesar de não ter sido das melhores, como dizes, um 16 não deixa de ser uma boa nota! Portanto,e antes de mais, os meus parabéns!

Quanto à reflexão propriamente dita, devo dizer que as conclusões a que chegaste já eram, pelo menos para mim, mais ou menos previsíveis. Acho que te disse isso na altura em que participei.
De qualquer modo, o teu trabalho foi mais uma forma de comprovar a nossa realidade actual no que respeita a este assunto, em suma: tem-se verificado uma evolução no sentido da distribuição de tarefas entre ambos os sexos, permanecendo ainda alguns preconceitos fruto da sociedade ainda machista em que vivemos.

Penso que poderias ter falado (não sei se o fizeste ou não, ou se era exigível) das causas que levaram ao longo dos últimos anos a essa evolução: a cada vez maior emancipação da mulher no mercado de trabalho, por exemplo; ou mesmo o facto de os casais serem hoje, maioritariamente, pessoas com mais formação (escolar/académica) do que acontecia há alguns anos atrás, sendo que essa formação tem um papel preponderante na "desconstrução" dos preconceitos ainda existentes a este nível, etc.

Faço apenas um pequeno reparo a uma coisa que li, que não me parece muito correcta, ou pelo menos não ficou muito perceptível.
A dada altura, referes que uma das limitações apontadas foi o facto do trabalho não ter em conta as profissões dos participantes. Concordo. Imagina um casal em que se estipulou que a mulher ficaria em casa a educar os filhos, porque o marido até ganha bem e aquela não precisa de trabalhar. Esta não será a realidade da maioria dos casais, mas neste caso, por comum acordo, as tarefas domésticas não são divididas, uma vez que se resolveu dividir a vida do casal de outro modo. Outro exemplo: a mulher que trabalha das 9h às 17h e o marido, que até é empresário e trabalha por conta própria, trabalha normalmente das 8h às 20h, também aqui, claramente e por razões que se compreendem, será a mulher a realizar a grande maioria, senão a totalidade das tarefas domésticas, sem que isso signifique que existe um qualquer tipo de preconceito no
casal, existindo antes uma distribuição justa dos afazeres de cada um em função dos seus trabalhos.
Ora, estas situações poderão não constituir a maioria dos casos, mas poderão igualmente inflaccionar os resultados.

Mas o reparo que queria fazer é o seguinte: quando referes essa limitação apontada, dizes que "contudo, actualmente em Portugal, ambos os sexos deveriam ter acesso às mesmas profissões, estando portanto igualizados no que toca a este parâmetro". Ou seja, o que dizes no fundo é "deveriam, logo, estão" ???? Compreendes o meu reparo? Não faz sentido. E será que estás com isso a dizer que este factor que acima refiro e que te foi apontados como limitação do teu trabalho, não é, afinal, uma limitação? E será que o dizes com base no que deveria ser e não no que é a realidade?

Bem, espero que não leves a mal o meu comentário.
Gostei muito de ler os resultados a que chegaste e sei, exactamente por ter lido e pela nota que tiveste, que está um bom trabalho. Por isso, uma vez mais os meus parabéns!

Beijinhos ;)

ψ Psimento ψ disse...

Theo: Comigo já sabes, não me importo de tratar da loiça e das outras coisas da casa desde que me ponham a comidinha feita na mesa. É que não gosto nem sei cozinhar.

KarenB: Quem sabe não terá sido por aí que se perderam os valiosos 4 pontos.
De qualquer modo só coloquei aqui uma pequena parte do trabalho e aquilo que referiste que devia ter referido foi colocado em outra parte do trabalho, nomeadamente na revisão teórica.
Quanto ao teu reparo, a lei portuguesa afirma que homens e mulheres devem ter os mesmos direitos no que toca à vida profissional (não estou com isto a dizer que têm na prática). De qualquer modo, esse seria um trabalho completamente diferente daquele que eu pretendia e analisar essa variável traria à "baila" assuntos muito mais complexos que as tarefas domésticas por isso de imediato descartamos essa variável. Quando eu digo "deveriam" é mesmo "deveriam" que quero dizer, se estão ou não, não é importante para este trabalho porque não é a variável em estudo. É neste caso apenas um dado teorico. Assim parto do principio que aquilo que disseste a nível das profissões tanto se pode aplicar a homens como a mulheres. De qualquer modo este trabalho era muito especifico, o objectivo sempre foi claramente identificado como as diferenças no que toca ao SEXO logo as diferenças no que toca a outros factores como profissão, idade, religião e etc, por muito interessantes que sejam ficam por outras pessoas que os queiram estudar. :) Nenhum trabalho pro mais completo que seja poderá algum dia analisar todas as variáveis do mundo simultaneamente.
Beijos